domingo, 20 de dezembro de 2009

O que é Medicina Fetal?

Medicina Fetal
Refere-se a uma avaliação especializada que abrange principalmente as gestações de alto risco, porém podendo ser estendida a qualquer situação que possa interferir com o desenvolvimento e/ou bem-estar fetal.
A seguir, descrevemos de modo sucinto, os grupos de pacientes a serem encaminhados, bem como a propedêutica fetal passível de ser aplicada:


GRUPO DE RISCO

1. Grupo de Risco Identificável Previamente a Gestação

Idade materna acima de 35 anos
Abortamentos de repetiçao
Malformação fetal em gestação anterior
Pais portadores de translocações cromossômicas
Doenças maternas crônicas (hipertensão arterial, diabetes mellitus, colagenoses, cardiopatias e outras)

2. Grupo de Risco Identificável Durante a Evolução da Gestação

Gestante com Isoimunização (Fator Rh, Fator plaquetário, outros)
Soroconversão materna durante a gestação (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes, varicela, AIDS, outras)
Polihidrâmnio ou oligohidrâmnio ao ultra-som de rotina
Retardo de crescimento intra-uterino
Suspeita de alteração morfológica fetal
Suspeita de alteração do ritmo cardíaco fetal
Alteração no exame dopplerfluxométrico
Exposição materna a agentes teratogênicos (Drogas, radia co es ionizantes, agentes infecciosos)
Rastreamento bioquímico materno alterado
Doença materna aguda

PROPEDÊUTICA FETAL

A propedêutica fetal é dividida em não invasiva e invasiva.

Propedeutica Fetal Não Invasiva

Aconselhamento genético-reprodutivo (Inclui avaliação de perdas fetais de repetição)
Ultra-sonografia de 1º trimestre
Ultra-sonografia Obstétrica Morfológica (estrutural)
Ultra-sonografia Obstétrica Genético-Fetal (frente às malformações fetais)
Dopplerfluxometria Obstetrica
Cardiotocografia Anteparto e Perfil Biofísico Fetal
Propedeutica Fetal Invasiva (Diagnóstica e Terapêutica)

Biópsia de Vilosidades Coriônicas
Amniocentese Genética
Amniocentese para Maturidade Pulmonar Fetal
Cordocentese
Punções e/ou Biópsias de Tecidos Fetais (pele, fígado, outros)
Amnioinfusão
Transfusão Intra-Uterina
Cirurgias Fetais (drenagens e derivações)

DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS

NÃO INVASIVOS

Aconselhamento Genético-Reprodutivo

Refere-se a uma consultoria em Medicina Fetal podendo ser realizada antes, durante ou após a gestação. O objetivo principal é identificar e orientar as pacientes que estejam inclusas nos grupos de risco.

Rastreamento Bioquimico

Investiga o risco da gestante ter um filho com cromossomopatia (em particular, trissomia 21), baseado no resultado de algumas proteínas presentes no sangue da gestante.

Recomendado:

Entre 11 e 14 semanas (precoce)
Utiliza-se: PAPP-A + beta HCG (incluindo Translucência Nucal) Taxa de detecção= 80 a 90%

Alternativa:

Entre 15 e20 semanas
Utiliza-se: AFP + beta HCG + ESTRIOL Taxa de detecção = 60%

Ultra-sonografia Obstétrica Morfológica

Requer cerca de 40 minutos de avaliação ultra- sonográfica. Inclui a análise detalhada da morfogênese, biometria e vitalidade fetal.

Recomendamos 4 ultra-sonografias durante toda a gestação, cujos períodos ideais seriam:

10 - 22 semanas
18 - 22 semanas
26 - 28 semanas
Ao redor da 34ª semana

Dopplerfluxometria Obstétrica

E realizada quando há indicação pela Ultra-sonografia morfológica, em gestações de alto risco ou ainda à pedido direto do obstetra. Inclui a análise dos três compartimentos à saber: Materno (aa. Uterinas), Placentário (aa. Umbilicais) e Fetal (aa. Cerebrais)

Cardiotocografia e Perfil Biofisico Fetal

São realizados para o controle da vitalidade fetal. Se faz necessária em gestações de risco ou para controle após procedimentos invasivos em gestantes com fetos viáveis (acima de 28 semanas).

INVASIVOS

Biópsia de Vilosidades Coriônicas

Punção em região trofoblástica, para pesquisa de anomalias genéticas, desordens metabólicas e estudo de DNA, realizada à partir da 10ª semana de gestação (Ideal entre 11ª e 13ª semanas)

Amniocentese Genética

Punção para retirada de líquido amniótico para pesquisa de anomalias genéticas, desordens metabólicas, infecções congênitas e estudo de DNA para patologias específicas. Realizada preferencialmente entre 15ª e 20ª semanas de gestação.

Amniocentese Tradicional

Indicada para pesquisa de maturidade fetal e no seguimento de isoimunização ao fator Rh.

Cordocentese

Punção do cordão umbilical para pesquisa de anomalias genéticas, infecções congênitas e desordens metabólicas. Realizada após a 18ª semana até o termo.

Biópsia e Punção de Órgãos Fetais

Realizada apenas em casos individualizados, onde exista a necessidade do diagnóstico preciso para determinar a conduta à posteriori (genodermatoses, desordens metabolicas e outros).

Transfusão Fetal Intra-Uterina

Realizada quando há isoimunização e/ou situações que cursem com anemia fetal, que indique nível de transfusão.

Cirurgia Fetal Intra-Uterina

Realizada quando há malformação ao ultra-som, cuja evolução cursa com prejuízo da função de órgãos fetais ainda intra- útero.

Todos os procedimentos invasivos necessitam de preparo cirúrgico com assepsia, antissepsia e paramentação da equipe médica, sendo realizados, na maioria das vezes, com anestesia local e em âmbito ambulatorial. São realizados sob controle ultra- sonográfico.

Fonte: FETUS - CENTRO DE DIAGNÓSTICO, Av. Prof. Alfonso Bovero, 1057 - cjs. 91/94 - 9° andar - CEP 05019-011. São Paulo SP

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Abortamento habitual

1. Introdução
Aborto é definido como a interrupção da gestação antes de 20 semanas e/ou com peso fetal inferior a 500 gramas. Estima-se que cerca de 15% das gestações cliniamente evidenciadas resultam em abortamento espontâneo. Essa taxa pode chegar a 50% se forem incluídas as gestações muito precoces, não diagnosticadas.
Abortamento habitual é a ocorrência de 3 ou mais abortos consecutivos. De acordo com estudos retrospectivos, tem uma probabilidade de ocorrência de 0,3 a 0,8%, e a chance de perda de uma gestação em uma mulher com abortamento habitual é de cerca de 40 a 45%.
O diagnóstico e conduta nos casais com aborto recorrente não se constitui tarefa das mais fáceis. A etiologia é variada e nem sempre é possível estabelecer uma relação de causa-efeito confiável de modo a instituir um tratamento eficaz.

2. Etiologia
2.1. Fatores Genéticos
As anomalias cromossomiais constituem a causa mais freqüente de abortamento de repetição, estando implicadas em até 70% dos casos de abortamento espontâneo precoce (até 10 semanas) e 30% das perdas tardias (10 a 20 semanas). Estão associadas também à malformações fetais e retardo mental.
Um aspecto importante em relação às anomalias genéticas é a determinação da real incidência do abortamento de repetição com aneuploidia e com euploidia, tanto na população geral como no casal em investigação, através da realização do cariótipo do concepto abortado.
No caso de aneuploidia recorrente, que representa um erro da gametogênese ou da fertilização, o primeiro passo, se possível, é determinar o tipo de erro divisional ocorrido (Meiose I ou II). De uma forma geral, uma vez documentada a aneuploidia, pode-se indicar a realização de inseminações com gametas doados ou mesmo inseminações cronometradas, visto que estudos correlacionam aneuploidia e idade dos gametas.
Em caso de euploidia recorrente é imperativo o prosseguimento da investigação de outras causas de abortamento.
Cerca de 3 a 5% dos casais com abortamento habitual apresentam uma anomalia cromossomial, que pode ser diagnosticada através da cariotipagem em sangue periférico. Um aconselhamento genético é apropriado nesses casos, fornecendo, por vezes, um prognóstico em relação a futuras gestações.
• Translocações
• Rearranjo cromossômico balanceado
• Mosaicismo dos cromossomas sexuais
• Inversões cromossômicas
• Trissomias autossômicas no concepto (13;16;18;21 e 22)
• Outras
2.2. Fatores Ambientais
Tabagismo, consumo excessivo de café e álcool, exposição a gases anestésicos e tetracloroetileno parecem estar associados a um risco maior de abortamento. Alguns estudos têm associado a exposição ao pentaclorofenol e a deficiência de selênio como possíveis causas de aborto espontâneo.
• Tabagismo
• Ingestão de álcool
• Consumo excessivo de café
• Tetracloroetileno
• Isotretinoína
2.3. Fatores Endócrinos
A secreção inadequada de progesterona durante a fase lútea do ciclo menstrual e nas primeiras semanas de gestação tem sido implicada, por alguns autores, como uma importante causa de abortamento de repetição. O tratamento com progesterona exógena (supositórios de 50mg 1x/dia) ,clomifene ou gonadotrofina coriônica humana (hCG) têm sido amplamente utilizados na prática clínica, apesar de sua eficácia não ter sido comprovada em vários estudos realizados. O diagnóstico pode ser feito através da biópsia de endométrio e/ou dosagem de progesterona sérica.
Pacientes com diabetes mellitus descompensado e distúrbios importantes da tireóide podem apresentar abortamento de repetição. Porém, é pouco provável que alterações leves estejam associadas a perdas gestacionais consecutivas.
• Diabetes mellitus
• Doenças da tireóide
• Fase lútea inadequada / Deficiência do corpo lúteo (?)
2.4. Fatores Anatômicos
As anomalias uterinas podem estar relacionadas a até 15% dos casos de abortamento de repetição, sendo o útero septado a alteração mais freqüentemente associada.
Anomalias como leiomiomatose ,septo uterino, sinéquias intra-uterinas, hipoplasia uterina, útero unicorno, bicorno ou arqueado e exposição materna ao dietilestilbestrol podem levar à distorção da cavidade uterina e/ou alteração da vascularização uterina com fluxo de sangue insuficiente para o concepto.
O diagnóstico pode ser realizado através da ultra-sonografia, histerossalpingografia, histeroscopia e videolaparoscopia. O tratamento depende do tipo de alteração e deve ser individualizado para cada caso. Há um grande aumento da chance de manutenção da gravidez após a realização da metroplastia.
• Leiomiomatose uterina
• Sinéquias intra-uterinas
• Incompetência istmo-cervical
• Anomalias Müllerianas
• Hipoplasia
• Útero bicorno
• Útero unicorno
• Útero arqueado
• Exposição ao Dietiestilbestrol
2.5. Fatores Infecciosos
Apesar de classicamente envolvidas, não existem fortes evidências de que infecções bacterianas ou virais causem abortamento de repetição, podendo, talvez, desempenhar um papel secundário. Uma incidência aumentada de títulos de anticorpos IgG para Clamydia tem sido encontrada em mulheres com abortamento habitual, mas não se tem certeza se isso representa realmente uma relação de causa-efeito. Outros agentes infecciosos seriam: Ureaplasma urealiticum, Toxoplasma gondii, Listeria monocytogenes, Mycoplasma hominis, herpes vírus, citomegalovírus e Parvovírus B19.
• Clamydia trachomatis
• Ureaplasma urealiticum
• Toxoplasma gondii
• Listeria monocytogenes
• Mycoplasma hominis
• Herpes vírus
• Citomegalovírus
• Parvovírus B19
2.6. Fatores Imunológicos
2.6.1. Autoimunidade
Os anticorpos antifosfolípídeos, que incluem tanto o anticorpo anticardiolipina como o anticoagulante lúpico, têm sido relacionados à história de abortamentos, perdas fetais, pré-eclâmpsia, sofrimento fetal e trombose em mulheres portadoras ou não de lúpus eritematoso sistêmico. A incidência de testes sorológicos positivos para autoimunidade está aumentada em pacientes com 3 ou mais abortamentos - cerca de 15% (grupo controle:2%).
O tratamento da síndrome antifosfolipídea é feito basicamente com doses baixas de heparina (5.000 UI SC 12-12h) e aspirina (75 a 100mg ácido acetil salicílico diariamente) tão logo haja o diagnóstico de gravidez. O uso de corticóides tem uma tendência a ser abandonado, pois apresenta maiores efeitos colaterais, aumentando a morbidade materna e fetal.
2.6.2. Aloimunidade
Alguns autores levantaram a hipótese de que ocorrem abortamentos devido à incapacidade de algumas mulheres de produzir uma resposta imune adequada para impedir a rejeição materna dos tecidos fetais, e que casais com abortamento de repetição apresentam um número aumentado de antígenos leucocitários (HLA), que impediria essa resposta. Não existem evidências para suportar essa teroria e mais estudos são necessários.
A imunoterapia, com infusão de linfócitos ou imunoglobulina, tem sido o tratamento proposto, entretanto, seu uso é controverso.
• Síndrome antifosfolipídica
• Anticardiolipina
• Anticoagulante lúpico
• Aloimunidade (Antígeno HLA) (?)
2.7 Abortamento de Repetição de Causa Não-Identificada
Em um grande número de mulheres com abortamento habitual não é possível identificar uma causa, apesar da investigação cuidadosa. É importante a identificação desse grupo e a orientação adequada da paciente, devendo informá-la que existe uma chance de 55 a 60% de que uma nova gestação aconteça sem problemas.
Não existem evidências de que quallquer tratamento empírico forneça um melhor prognóstico.

3. Considerações finais
Talvez um dos aspectos mais importantes no tratamento de pacientes com abortamento habitual seja uma relação médico-paciente adequada tanto no período pré-concepção como durante a gestação, que geralmente é cercada de medo e apreensões. A comunicação adequada entre médico e paciente com a exposição de todos os aspectos de seu quadro clínico é tão importante que, em alguns casos, poderá ser terapêutico. É importante entender que as pacientes vivem sob forte tensão, por vezes com sensação de culpa e frustração. E que, se não pudermos fornecer um diagnóstico apurado e um tratamento adequado, que possamos ao menos entender nossa paciente e tentar livrá-la dos medos e complexos inerentes à sua situação.

Autor: Alexandre Otavio Chieppe

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Aborto espontâneo e provocado: sentimentos vivenciados pelos homens

Sentimentos relativos ao aborto espontâneo

▪ Tristeza e infelicidade pela perda do filho (1,2,3,4,5,6,7)

"Em relação a minha pessoa, eu fiquei bastante abalado, fiquei triste por ter perdido um filho" (2)

"É uma perda de um filho, é assim que interpreta. É uma coisa indescritível, é uma dor, dor real bem profunda" (3)

"Para mim o aborto significou mais uma chance perdida de ter um filho, que seria uma alegria para mim, se ele viesse normal" (4)

▪ Sofrimento causado pelo abalo emocional, trauma psicológico e afetivo (1,2,3,6,8)

"Mesmo que seja um feto em formação acho que é há uma ligação. O impacto é a mesma coisa, a gente fica muito triste, fica realmente emocionalmente abalado. Afinal é filho, então, realmente fica muito abalado, isso que eu experimentei" (3)

"Depois que ela perdeu, eu fiquei muito traumatizado e chateado, a ponto de não querer mais ter filhos" (6)

"Já para o homem, há mais o lado psicológico e afetivo, o trauma é muito grande, mas não tão grande quanto o dela" (8)

▪ Chateação, decepção e depressão pelo fato de não poder ser pai (1,6,7,8)

"E, no caso do homem, a preocupação é de não poder ter um filho" (1)

"Depois que ela perdeu, eu fiquei muito chateado. Você fica louco para ver a carinha dele e não vê. De repente, fiquei quase morto por dentro de tanta decepção" (6)

"Fiquei deitado meio que depressivo. E, assim, a gente vai tentando buscar forças novamente para superar a perda de um filho" (8)

▪ Preocupação com a esposa (1, 4, 5, 6, 8,9)

"A minha preocupação era deixar ela saber que isso não iria influenciar o nosso relacionamento, que não iria mudar nada, que nós iríamos continuar tentando e se fosse o caso, futuramente, adotar um filho, não teria problema algum" (1)

"Fiquei preocupado. Além de perder um futuro filho, também tinha as conseqüências que o aborto poderia trazer para minha mulher como, por exemplo, problemas de saúde" (4)

▪ Sensação de discriminação pelo fato de ser homem (5,8)

"No caso do aborto sempre o pai fica meio de lado. O homem é classificado como forte. Então, as pessoas fazem aquele lamento rápido como se fosse de pena e pronto, essa é a realidade! Mas, o homem, o pai é discriminado, foi aquele safado que fez, que não assumiu. Todo homem é meio assim, as pessoas acham que o homem é aquele canalha e, infelizmente, é isso" (8)

▪ Padecimento em razão da ausência de orientação e apoio psicológico (5,6,7,8)

"No hospital teve enfermeiros, médicos, mas não tinha um que cuidava da cabeça, quero dizer, um psicólogo ou alguém instruído para dar algum apoio pra nós. E achei que precisaria para ela e para mim também. Principalmente, naquela hora" (6)

"Acho que falta algum apoio nesse sentido. Se fosse dado, pode ser que o homem brasileiro, pela questão cultural também, ache que seja frescura, que não precisa, que já sabe que perdeu e que dá para fazer outro. Mas o homem sofre, ele padece, eu particularmente" (8)

▪ Culpa pela ocorrência do aborto (5,9)

"Acho que talvez eu tenha ficado um pouco com a consciência pesada, por não ter dado o meu apoio total, 100%. Se isso afetou a gravidez, não sei dizer. Mas, me senti com a consciência pesada no momento e após aquela realidade conversei bastante com ela" (9)

▪ Amadurecimento com experiência vivida (8,9)

"Eu acho que esses abortos que ela teve foram muito dolorosos, acho que a vida nos reservou muito isso, para que nós aprendêssemos e crescêssemos, porque nós éramos pequenos" (8)


Fonte: Márcia Melo Laet RodriguesI; Luiza Akiko Komura HogaII
Mestre em Enfermagem. Enfermeira Obstétrica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. marcialaet@ig.com.br
Livre-Docente em Enfermagem. Professora Associada do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. kikatuca@usp.br

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Problemas de fertilidade e a infertilidade:

Calcula-se que um casal em cada sete possa ter problemas de fertilidade. Num terço dos casos, a situação tem origem na mulher, noutro terço tem origem no homem e, no terço restante, o problema pode ser de ambos ou a causa ser desconhecida. Qualquer destas situações deve ser encarada como um problema do casal, no qual ambos deverão estar envolvidos.

Quando é que o casal deve procurar ajuda especializada?

Dificuldade em engravidar não é necessariamente um problema de fertilidade. Diz-se que um casal tem problemas de fertilidade quando após um a dois anos de actividade sexual sem utilização de métodos contraceptivos não ocorre uma gravidez.

Recomenda-se que o casal procure ajuda especializada quando a gravidez não ocorre ao fim de dois anos. Se a mulher tiver mais de 30 anos, o casal deve procurar ajuda ao fim de um ano.

Quais são as causas?

Coexistem diversos factores, quer no campo das vivências físicas quer psicológicas, que, individualmente ou associados, podem condicionar a fertilidade do casal.

Para identificar as causas da infertilidade é necessário proceder a uma série de entrevistas e exames. Trata-se de um processo que pode ser física e emocionalmente desgastante, mas que é importante para que se possa determinar quais os tratamentos mais adequados a cada caso.

Quais são as formas de diagnóstico?

Em primeiro lugar, o casal deve consultar um médico. Nessa consulta são avaliados os antecedentes clínicos de ambos, no que respeita a doenças e intervenções cirúrgicas efectuadas, características do ciclo menstrual, dificuldades sexuais e o estilo de vida do casal.

Contudo, em muitos casos estes procedimentos não são suficientes para caracterizar a situação, pelo que se torna necessário realizar exames complementares de diagnóstico, como, por exemplo, o controlo do equilíbrio hormonal e a análise do esperma.

Quais são as formas de tratamento?

Em alguns casos, o problema fica resolvido com a determinação da altura mais adequada para haver relações sexuais, após o estudo do período fértil do ciclo menstrual.

Noutros, pode utilizar-se uma ou várias formas de tratamento disponíveis, que serão sempre realizadas com o consentimento informado do casal:

Medicação – Há medicamentos que podem ajudar a regular os problemas que possam existir a nível hormonal no homem ou na mulher (por exemplo, medicamentos para provocar a ovulação);
Cirurgia – Podem ser utilizadas certas técnicas cirúrgicas para, por exemplo, eliminar obstáculos físicos que estejam a dificultar ou a impedir o processo de fecundação;
Técnicas laboratoriais – Há várias técnicas de fertilização com apoio laboratorial, entre as quais a inseminação intra-uterina ou a fertilização in vitro.

fonte:http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/gravidez+e+sexualidade/problemasdefertilidade.htm

Luto de um pai por perda de um filho natimorto.

De acordo com Doka (1989), nossa sociedade estabelece regras de comportamento e até de sentimentos.
Uma mãe que não expressa seu pesar escandalosamente se torna vítima de comentários e assusta a sociedade com sua aparente “frieza”, e o mesmo estranhamento acontece quando um pai expressa toda sua emoção publicamente.
Os tipos de perdas e relacionamento também influenciam no aceitamento social da perda. Por exemplo, a relação entre um pai e um filho natimorto não é tão reconhecida quanto a de um pai com um filho maior, portanto, esse tipo de luto não é validado.
Na mídia, quando somos notificados da morte de algum jovem ou criança, quem aparece resolvendo as situações burocráticas referentes ao destino do corpo e rituais na maioria dos casos é o homem (pai), e de acordo com Doka (2000), muitas vezes estes pais contém seu sofrimento com a intenção de poupar a mulher, o que pode aparentar certa frieza em relação à perda, e ocasionar dificuldades no casamento.
Em meio a tantas obrigações e expectativas sociais, fica difícil para os homens demonstrarem seu sofrimento frente suas perdas.

Nome/autora: Celina Gammellone
Orientadora: Valéria Tinoco

Assistência Psicológica em Medicina Fetal

Durante a gravidez muitos medos podem se fazer presente na vida de um casal, um deles é o medo de que ocorra alguma mal formação no bebê.

E quando isso acontece, o que fazer? A quem recorrer neste momento tão difícil? Como enfrentar a “perda” de um sonho tão esperado?

Muitos sentimentos, fantasias e sintomas tomam conta do casal quando recebe um diagnóstico de anomalia fetal, sentimentos como: Medo; Angustia; Ansiedade; Regressão; Culpa; Isolamento Progressivo e Projeção são constantes.

Quando diagnosticado a presença de anomalia fetal a gestante terá que enfrentar a mudança no rumo da vida, para isso é necessário um tempo para a reorganização, para sair do estado de choque, para poder refletir sobre os sentimentos e então partir para uma tomada de decisão consciente sobre a interrupção ou não da gestação no caso de inviabilidade extra- uterina.

Diante de tal diagnóstico as primeiras reações vivenciadas pelo casal são:
• Choque
• Negação
• Revolta
• Aceitação
• Elaboração do Luto
• Desligamento do bebê imaginário
• Aproximação do bebê real
• Reestruturação da vida

É importante destacar que quanto maior for a rigidez e resistência ás mudanças, maior será o sofrimento psíquico e a dificuldade de adaptação.

Geralmente os homens optam pela interrupção da gestação com maior freqüência do que as mulheres, estes também vivenciam um sentimento de impotência por acreditar que não foi “forte” o suficiente para proteger a sua família.

No caso das mulheres as reações diferem segundo a personalidade de cada uma.
Mulheres narcisistas optam pela interrupção da gestação sem passarem por dificuldades e sem apresentarem transtornos psicológicos, as Hipocondríacas, vêem a anomalia fetal se transformar simbolicamente em segurança, como se o feto se tornasse a sua doença e no caso de mulheres com transtorno Psicótico a tomada de decisão autônoma fica prejudicada.

O trabalho de assistência psicológica (Pré Natal Psicológico) segue um protocolo de atendimento com adaptações a essa população, apresentando algumas particularidades para casais que optam pela manutenção ou interrupção da gestação.
Este trabalho deve abordar questões como A relação pai-mãe-bebê, as expectativas do casal, seus medos e dificuldades durante o enfrentamento deste processo.

O atendimento se dá através de entrevista psicológica, Psicoterapia de Apoio, psicoterapia Breve e um acompanhamento do casal até o terceiro mês após o parto.

“Um casal bem assistido, ao concluir seu processo, é capaz de questionar e reorganizar os seus valores, reestruturar a relação conjugal, rever sua postura no mundo, fortalecer-se egoicamente e exibir um equilíbrio emocional estável” (Bortoletti, da Silva & Tirado apud Bortoletti & cols,2007)


Autor: Pedro Nasimento

Adolescentes gestantes em situação de risco podem ser ajudadas por equipes multidisciplinares

As principais características encontradas em adolescentes gestantes em situação de risco são: falta de apoio familiar, fantasia de estar mudando de vida, sendo a gravidez um possível passaporte para romper com o núcleo familiar, sentimento de abandono e constatação dolorosa do não rompimento, ou seja, que não houve mudança positiva, mas sim mudanças significativas, como privação da rotina anterior, sair da escola, ser rejeitada pelo parceiro, ser expulsa de casa pelos pais, padrastos, falta de recursos
financeiros para se manter e conflitos pertinentes a sua própria história de vida, bem como, reprodução da história de sua mãe, entre tantos outros sentimentos pertinentes a gestação, como medo, ansiedade, não aceitação, culpa e etc...
É importante destacar diante desta situação os grupos de acolhimento e de conscientização para essas gestantes adolescentes, pois as mesmas poderão ter um lugar de escuta e acolhimento, como também um núcleo de referência e apoio integral para elas e seus filhos, auxiliando-as a buscarem os recursos necessários para garantir uma gestação adequada e uma maior qualidade de vida. Nos casos considerados de maior sofrimento e risco, estas adolescentes devem receber um atendimento individual e a partir de suas demandas, o profissional deve buscar estratégias terapêuticas com uma equipe multidisciplinar para melhor atender esta adolescente, como assistência médica, odontológica, fisioterapêutica, judiciária, social , psicológica e etc.
Quais são as implicações clínicas deste trabalho à gestante adolescente de alto risco?
O trabalho com gestantes adolescentes consideradas de alto risco por não terem uma série de contingências sócioeconômicas, familiares, e biológicas para gerarem um filho, possibilita um cuidado não só a criança que irá nascer e que necessita de cuidado integral , segundo proposta do SUS (sistema único de saúde) e do ECA (estatuto da criança e do adolescente) , como também garante a proteção e contingência a estas adolescentes que também são sujeitos em desenvolvimento e merecem cuidado integral e envolvimento de seu entorno
social e familiar. Para garantir este espaço de escuta, acolhimento e direcionamento, é necessário um engajamento dos profissionais que trabalham com esta adolescente, e que possam ser feitos os encaminhamentos necessários.

Bem-vindos

Olá. Sejam todos bem-vindos (as)!!
Meu nome é Pedro Nascimento, sou psicólogo e me interesso muito pela psicologia da gestação.
Ao procurar materiais relacionados à essa fase tão especial da vida da mulher, constatei que não há blog para discussão sobre uns assuntos complicados como anomalias fetais, abortos e óbito fetal.
Creio que os casais que passam por essas situações encontrem dificuldades para se informar e se sentir acolhidos e amparados. Por este motivo resolvi criar este blog.
Fiquem à vontade para sugerir temas e discussões....
Abraços