Toda gestação traz em si mesma risco para a mãe ou para o feto. No entanto, em pequeno número delas esse risco está muito aumentado e é então incluído entre as chamadas gestações de alto risco. Desta forma, pode-se conceituar gravidez de alto risco "aquela na qual a vida ou saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido, têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada" (Caldeyro-Barcia, 1973).
O interesse pela gestação de alto risco data da década de sessenta e, como seria de se esperar, despertou a atenção de inúmeros estudiosos, no mundo inteiro. Para a generalização dos conhecimentos, o primeiro passo era a identificação, em determinada população, daquelas que tivessem fatores de risco. Assim, surgiram inúmeras tabelas e escores na literatura mundial, diferentes entre si, por relatarem realidades de países, ou mesmo regiões diferentes.
No Brasil, por suas grandes dimensões e, principalmente pelas
diferenças sócio-econômico-culturais, evidenciam-se fatores
de risco diversos para as várias regiões. Partindo-se desta
constatação, parece ser de maior interesse listarem-se os fatores
mais comuns na população em geral. Assim, os fatores
geradores de risco podem ser agrupados em quatro grandes
grupos, que são:
1. Características individuais e condições sócio-demográficas
desfavoráveis;
2. História reprodutiva anterior à gestação atual;
3. Doenças obstétricas na gestação atual;
4. Intercorrências clínicas.
As situações listadas no Quadro 1, embora de risco, devem
ser abordadas, quanto ao atendimento especializado, na
dependência da estruturação dos serviços locais. De maneira
geral, são inicialmente atendidas no nível primário, e referenciadas posteriormente, se necessário, para níveis mais complexos de
atenção. Na atenção às gestantes ditas de "baixo risco",
deve-se atentar para o aparecimento ou agravamento dos
referidos fatores. A ausência de controle pré-natal, por si mesma, é um fator de risco para a gestante e o recém-nascido.
Quadro 1. Fatores de risco na gravidez (Tedesco, 1999, modificado)
1. Características individuais e condições sócio-demográficas
desfavoráveis
_ Idade menor que 17 e maior que 35 anos
_ Ocupação: esforço físico, carga horária, rotatividade de
horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos
nocivos, estresse.
_ Situação conjugal insegura
_ Baixa escolaridade
_ Condições ambientais desfavoráveis
_ Altura menor que 1,45 m
_ Peso menor que 45 kg e maior que 75 kg
_ Dependência de drogas lícitas ou ilícitas
2. História reprodutiva anterior
_ Morte perinatal explicada e inexplicada
_ Recém-nascido com crescimento retardado, pré-termo ou
malformado
_ Abortamento habitual
_ Esterilidade/infertilidade
_ Intervalo interpartal menor que 2 anos ou maior que 5 anos
_ Nuliparidade e Multiparidade
_ Síndrome hemorrágica ou hipertensiva
_ Cirurgia uterina anterior
3. Doença obstétrica na gravidez atual
_ Desvio quanto ao crescimento uterino, número de fetos e
volume de líquido amniótico
_ Trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada
_ Ganho ponderal inadequado
_ Pré-eclâmpsia e eclâmpsia
_ Diabetes gestacional
_ Amniorrexe prematura
_ Hemorragias da gestação
_ Aloimunização
_ Óbito fetal
4. Intercorrências clínicas
_ Hipertensão arterial
_ Cardiopatias
_ Pneumopatias
_ Nefropatias
_ Endrocrinopatias
_ Hemopatias
_ Epilepsia
_ Doenças infecciosas
_ Doenças autoimunes
_ Ginecopatias
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